Muito tem se falado sobre saúde mental, os males que o estresse e a ansiedade pode causar às pessoas. No entanto, uma recente pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostra que todos esses transtornos têm sido diagnosticados cada vez mais cedo em jovens, adolescentes e pré-adolescentes.
De acordo com um relatório do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA), 56% dos alunos brasileiros têm problemas com estresse. Os dados chamam atenção e exigem das instituições de ensino um preparo para lidar com essa nova realidade entre os jovens e adolescentes.
Para a psicóloga clínica, que estuda a área de terapia cognitiva comportamental, Karen Muniz, as crianças são um reflexo de suas famílias e as famílias hoje estão mais ansiosas e imediatistas como nunca foi antes.”Exigimos resultados uns dos outros no menor tempo possível e inevitavelmente fazemos isso com nossos filhos. Ocupamos eles com o máximo de atividades na expectativa de que eles possam ser bem sucedidos na fase adulta. Por melhor que sejam nossas intenções, muitas vezes exageramos e tiramos a infância das crianças”, explica Karen.
Margarete Nussbaum é administradora e mãe, ela afirma que é uma mistura de sentimentos por parte dos pais e a cobrança em cima dos filhos é algo que ocorre de maneira bem sutil. “Primeiro a gente quer oferecer para nossos filhos oportunidades que nós não tivemos. Outro fator que pesa é que em geral trabalhamos o dia todo. Assim, ocupamos o tempo das crianças no intuito de não deixá-las apenas em casa sem fazer nada”, comenta.
Karen confirma que essa tendência dos pais, por mais bem intencionada que seja tem um resultado negativo nos pequenos. “As crianças são tratadas como pequenos adultos, são exigidos delas resultados e eficiência sem respeitar sua faixa etária e individualidade. Isso, a longo prazo, pode ter sérias consequências como adolescentes ansiosos e com outros transtornos. Nessa hora, é importante que a escola esteja preparada para equilibrar essa situação de pressão”, explica.
A metodologia que é aplicada na escola pode ajudar nessa situação
Enquanto algumas instituições apostam no trabalho de conscientização das crianças e familiares, há entidades que vão mais a fundo para tentar amenizar essa tendência entre os jovens. Elas trabalham na metodologia pedagógica com os estudantes desde a educação infantil (02 a 06 anos).
É o que a Irmandade Evangélica Betânia (IEB) está fazendo em suas três unidades educacionais em Curitiba e Colombo. A instituição tem como foco, a metodologia froebeliana (metodologia alemã que valoriza o aprender por meio do brincar e descobrir). Mas agora, entende como é importante continuar investindo nesse procedimento técnico que acredita ser o melhor para lidar com uma geração de crianças ansiosas que estão surgindo.
Na Escola Aldeia Betânia (EAB) a equipe pedagógica entende essa nova realidade e busca trabalhar com as crianças de uma maneira que os incentive a crescer e desenvolver, mas respeitando seu tempo e personalidade. “Froebel (criador dessa linha de estudos) acreditava que possibilitar à criança um espaço para ela descobrir, interagir, brincar, desenvolver habilidades cognitivas, sociais e motoras era o melhor para ela. Hoje, vemos que essa metodologia se aplica muito bem. Em meio às diversas situações na sociedade atual, nós como Escola priorizamos o desenvolvimento das potencialidades das crianças através de brincadeiras e atividades que possibilitem ao aluno criar, investigar, explorar, vivenciar, entre outros, pois esses estímulos contribuem para a formação futura dos nossos alunos”, explica a coordenadora de Educação Infantil, Daiane Cunha.
A união entre família e escola pode ser uma das respostas
Daiane enfatiza porém, que a escola sozinha não consegue diminuir esses transtornos. “Famílias e escolas trabalhando juntas, dando mais atenção à criança e interagindo com ela. Nenhuma escola, nenhuma metodologia irá por si só amenizar esses sintomas. A participação da família é importante nesse processo”, conclui.
A coordenadora da Educação Fundamental, Patrícia Sdroieski, afirma que por mais difícil que seja, é importante também os pais evitarem se realizar em seus filhos. “É mais comum do que pode se imaginar, e também é natural que aconteça de o pai querer se realizar por meio do filho. Mas é importante termos consciência de que o excesso disso pode acarretar alguns males nos filhos e desde cedo controlar e respeitar a identidade e personalidade do filho”, finaliza.
Ela também afirma que por mais corrido que seja a rotina familiar, o cuidado e o acompanhamento são fundamentais na infância das crianças. O respeito a individualidade e a personalidade são fundamentais no processo de formação da criança.
Ao analisar a relação com o próprio filho Margarete concorda que em muitos casos existe uma tentativa de compensar algo, e confessa que tem trabalhado para respeitar o espaço de sua criança. “Quando vi que o Isaac tinha o tempo dele e a escola me aconselhou a ir com calma e respeitar mais eu tive que me policiar. A natação foi adiada, outros projetos que tinha foram adiados e agora tento respeitar o tempo dele”, comenta.